24.7.06

Meu primeiro emprego

Eu devia ter uns 16 anos quando resolvi trabalhar, ninguém me “botou na obriga”, porém o apelido de “vagal”, não me soava muito bem. Queria me mostrar útil para alguma coisa, até por que a coisa na minha casa não estava muito bem, no que dizia respeito á grana. Minha primeira profissão foi professor de datilografia, arranjada pela minha mãe, é claro, num centro comunitário do Guarujá. Ah! Detalhe, eu tinha feito um curso no ano anterior e não tinha aprendido nada. Não precisa saber bater bem á máquina para ser instrutor de datilografia, apenas descobrir o talento individual de cada aluno. Fazer com que cada um fosse determinado a aprender e desenvolver o seu talento, coisa que não havia acontecido comigo. Eu apenas cumprira o mínimo do curso para ser aprovado. As aulas eram á tarde, num clube de mães e com máquinas do tempo do “Ariri Pistola”. Os alunos eram carentes, porém mais determinados do que eu havia sido, me pediam para demonstrar as minhas habilidades e eu sempre dizia: ”Eu já sei datilografar, e é vocês que tem que aprender, sigam seus polígrafos”. Então , a Tânia irmã do meu cunhado que trabalhava na RBS TV, me indicou ao Kiko, um produtor. O cara estava fazendo uns programinhas chamados “Pontos e Encontros da Pingüin” que entravam no intervalo dos trapalhões. EU fui um legítimo desastre, corria muito no set, tropeçava em tudo, destruição por onde passava, “estabanado” demais. Kiko me disse: Guri dá um tempo vai descansar lá atrás do cenário e já me faz uns sanduíches. Eu ficava só ouvido a atriz dar o texto e imaginando o quê estava acontecendo, enquanto isso, eu fazia cem sanduíches escondido atrás da tapadeira. Quando terminei a tarefa era tarde da noite, e fui descansar, me encostando atrás da parede. E neste instante enquanto a atriz falava, a parede inteira do cenário começou a tombar sobre ela, foi uma correria, e quem era o culpado? Eu, é lógico, fui demitido na hora. Voltei a ser instrutor datilografia e imaginei nunca mais ser chamado para nada no cinema. Mas para contrariar toda as expectativas, fui chamado pelo Gringo, um produtor que trabalhava sozinho, e eu fui fazer uma dupla com ele. Já com o Gringo, eu fui com menos sede ao pote, e estou no ramo até hoje. Um dos nossos primeiros trabalhos foi um áudio-visual para o Hospital de Clínicas de Porto Alegre, uns quinze dias de filmagem. Tiveram muitas coisas engraçadas na feitura daquele trabalho. Por exemplo, eu empurrava um carrinho de produção com diversas caixas, pelos corredores do hospital, para não ser roubado, eu tapei o carrinho com um enorme pano preto. Passava por tudo e as pessoas imaginavam que eu levava um caixão de defunto ou algo morto. Me evitavam, os mais religiosos, faziam o sinal da cruz, não queriam andar no mesmo elevador, eu era considerado um “papa defunto”. Era hilário; uma vez o Gringo foi gravar uma cirurgia, entrou todo vestido com a roupa do bloco cirúrgico e ficou lá dentro um tempão. Eu fiquei do lado de fora, com a família do paciente, até que ele saiu vestido, parecendo um médico, e disse: “Aqui tá morto vamos pro andar de cima!”. Aquilo causou um tremendo susto á família do doente, que eu tive que acalmar e explicar sobre as gírias do cinema.

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