9.2.06

O Mussum

Das minhas muitas histórias esta é a mais ouvida, a mais contada, a mais intrigante, aquela que permanece depois de tantos anos. Já pensei em escreva-la para o quadro da Denise Fraga no Fantástico, mas o autor tem que pôr o rosto na telinha, aí é mico global, desisti. Mas tudo começa com um cachorro que eu tinha na minha adolescência, se é que podia se chamar aquilo de cachorro. O Mussum, era um cãozinho bem pequeno, tipo anão, velho, 14 anos, preto russo, que nem camiseta preta velha, caminhava saltitante, muito brabo. Aquele tipo de cachorrinho baixinho invocado, corria atrás de bicicleta, vivia na rua, entrava num buraco de esgoto e saia em outro. Era podre, fedido, feio e bravo; porém me amava muuuuuito! Na semana do meu casamento decretei algumas normas severas na casa de meus pais, afinal a recepção, após a cerimônia na igreja, seria á beira da piscina da minha casa. Uma das leis era ficar com pátio limpo durante esta semana, peguei o Mussum e outros cães que eu tinha, e os lavamos para um canil. Este canil era em Teresópolis atrás da igreja. Mal cheguei em casa, minha mãe disse: “Ligaram do canil, liga pra eles!“. A notícia era que após eu deixá-lo atrás das grades, ele fugira, rasgou as telas e estava á solta pelo bairro. Não vou dizer que não fiquei triste, porém parecia melhor, uma série de problemas da minha infância estariam solucionados. A minha vizinha Magda, uma adoradora de gatos, me pegou em casa e percorremos as ruas ao redor do canil e nada do pequeno Gremilim. Desisti, e imaginei o melhor pra ele. Lembrei-me da vez que a Condota, minha outra vizinha, tinha me dito que deu “ri-do-rato” pra ele e o pequenino parecia mais forte. Ele incomodava muito, frustado, tentanto cruzar com a sua vizinha “Fila-Brasileiro”, devido a estatura elevada da raça. Era um histórico digno de qualquer “Papael”: Atropelamentos, envenenamentos, surras de cães maiores, e tudo de ruim que você conseguir imaginar! E ele lá vivinho da Silva! E pior mais forte! Era um tipo de mutação da espécie!
Agora o pior, no dia do meu casamento, já se tinha esquecido do desaparecimento do dito cujo. Na saída dos noivos da igreja, no comboio nupcial, o carro da minha mãe furou o pneu. Enquanto ela esperava os homens do automóvel trocarem o estepe, próximo a uma praça na tristeza, ela que tem sérios problemas de visão avistou á noite um ser saltitante. Uma coisa parecida entre frankstein e um guizmo que comeu após a meia noite. Era ele, o Mussum reapareceu! A minha chegada na recepção foi abafada pela notícia:- O Mussum voltou! Outros vizinhos disseram: “Talvez ele tenha lido o convite e sabia da hora e do local para estar na igreja!” Outros tinham a tese que ele vinha procurando o Rio Guaíba, pelo cheiro, pois sabia que morava próximo ao Rio e a Igreja também estava perto da suas margens. Só sei que em todas as fotos do meu álbum de casamento, todos queriam que ele aparecesse. Depois de uma semana de sumiço ele estava pior e mais sujo. Ficou imortalizado no meu álbum e morreu uma semana depois, de velho, dormindo num tapetinho perto da porta.

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